sábado, 23 de novembro de 2013


Por: Magda Suzana da Silva Ferreira
Laura dos Santos Lunardi



   Este artigo discorre sobre as atribuições do serviço social, contextualizando-as à luz das transformações na dinâmica dos serviços de saúde propostas pela Reforma Sanitária brasileira. Descreve as características de um processo de assistência voltado à integralidade do usuário, enumerando ainda as diversas atividades destinadas a implementar tal prática.
A doença normalmente causa rupturas na organização familiar. Nos casos graves, que requerem hospitalização, observa-se ser este um momento difícil tanto para o paciente quanto para seus familiares. A enfermidade altera a realidade, provocando impacto no cotidiano da família e obrigando-a, entre outras coisas, a adaptar-se às regras institucionais.
    O trabalho com pessoas hospitalizadas e seus familiares torna visível à vulnerabilidade que acomete todos os que passam por essa situação, mostrando a importância da luta pela humanização do atendimento. Isso fica ainda mais evidenciado quando se considera que, além de estarem vivendo um momento de fragilidade e ansiedade devido à enfermidade, muitas pessoas têm seu sofrimento agravado por desconhecerem seus direitos de cidadania.
    Segundo IAMAMOTO pode-se verificar ser de suma importância para os assistentes sociais, em qualquer âmbito de atuação, captar as novas mediações e requalificar o fazer profissional, atribuindo-lhe particularidades e descobrindo alternativas de ação. A autora afirma que um dos maiores desafios atualmente enfrentados pelo assistente social é o de desenvolver sua capacidade de decifrar a realidade para construir propostas de trabalho criativas, capazes de preservar e efetivar direitos, a partir da demanda emergente no cotidiano. Enfim, ser um profissional propositivo e não apenas meramente executivo. Os atributos profissionais do assistente social conferem-lhe competência para propor novas formas de tratar os problemas, negociar seus projetos com as instituições, defender o seu campo de trabalho, qualificações e funções profissionais.
    Seguindo a proposição acima, o Serviço Social busca transformar o contexto da atividade laboral. Para tanto, intervém junto ao usuário no sentido de fortalecer sua autonomia e informar-lhe sobre seus direitos como cidadão, especialmente no que tange aos aspectos relacionados à saúde. O trabalho desses profissionais está voltado à promoção da emancipação do usuário, para que possa ser agente no processo de mudança de sua própria realidade, transformando-se em partícipe ativo no controle social. Cabe ainda ao assistente social estimular a participação do usuário nas comissões de saúde, entre outras ações, capacitando o indivíduo a ser sujeito no processo de transformação da sociedade, partindo da conscientização social, ou seja, uma mudança global e não mais individual.
    A relação Estado e sociedade vem se modificando progressivamente na realidade brasileira; no caso da saúde, em termos de acesso a direitos sociais, há importantes diferenças, antes e após a Constituição Federal de 1988. O direito à assistência estava vinculado à contribuição à Previdência Social, excluindo o acesso de todos os não inseridos no mercado formal de trabalho. Isso, naturalmente, fragilizava ainda mais as classes populares, já vulneráveis por sua condição econômica e social.
    Na passagem da década de 1970 para a seguinte, foi possível demarcar o estabelecimento de novas relações entre o Estado e a sociedade. As desigualdades no acesso à saúde, a desorganização da Rede, a centralização do processo decisório e a baixa resolubilidade e produtividade dos recursos existentes, somados à conjuntura de crise econômica, colocaram em cena novos atores sociais que passaram a pressionar o Estado por políticas sociais mais equânimes.
    No tocante à saúde, as mudanças introduzidas pela Constituição de 1988 são o resultado da força organizada do Movimento Sanitário, que emergiu nos anos 1970 por iniciativa de um grupo de intelectuais, médicos e lideranças políticas do setor saúde, provenientes, em sua maioria, do Partido Comunista Brasileiro. Esse movimento deu origem à Reforma Sanitária brasileira, que alterou o panorama da política social de saúde, hoje configurada como a área que mais sofreu transformações significativas.
    A mudança trazida pela Constituição e pela Lei 8.080, a chamada 'Lei Orgânica da Saúde', que definiu a forma de operacionalização do Sistema Único de Saúde (SUS), colocou em destaque os diversos profissionais que até então permaneciam em posição secundária. Nessa conjuntura o assistente social passou a ter um papel mediador no contexto hospitalar, intervindo sobre as tensões, os conflitos, a violência, entre os grupos excluídos, a sociabilidade local e a sociedade instituída, sem, contudo, tomar posição por nenhum dos pólos de conflito que fazem esforços, cada um, para trazer o Serviço Social para seu lado. O Serviço Social faz, neste sentido, a interligação entre os sistemas-recursos e de poder com os sistemas-utilização, tendo como a inclusão social dos excluídos pela sociedade desigual, facilitando a comunicação entre sistemas, principalmente em caso de dificuldade e de ausência de relações entre os dois sistemas.
Se saúde e doença são percebidas como aspectos contrários, como pólos opostos do estado físico e psíquico, essa bipolaridade também está presente no corpo de quem vivencia esses fenômenos: posto que a doença, para ser entendida, é preciso que a saúde se vá e o conhecimento [da doença] se torne possível. Como salienta Ribeiro, em citação à Ariés, a sensação de estar privado da saúde, o temor e a fragilidade que tal sensação desperta podem desencadear um processo de submissão total do doente ao hospital, evidenciando uma tentativa de suprimir o mal que o acometeu: o hospital não é apenas o lugar onde as pessoas se tratam e curam; é também onde se morre e onde, paradoxalmente, a morte é negada. O mesmo autor, dessa feita citando Boltanski, afirma, em contraponto a essa assertiva, que os profissionais de saúde trabalham no sentido de transformar essa realidade de submissão, por meio de abordagens voltadas à emancipação das pessoas doentes, entendendo, também, que a doença do doente é do seu organismo total e não a doença anatômica.
    Existem ainda vários outros fatores inerentes à hospitalização que contribuem para o recrudescimento de agruras existenciais e de problemas emocionais graves, que atuam de forma deletéria ao desenvolvimento da pessoa doente e hospitalizada. Dentre esses se destacam o desmame agressivo; o transtorno da vida familiar; a interrupção ou retardo da escolaridade, ritmo de vida e desenvolvimento; as carências afetivas e agressões psicológicas e físicas; despesas elevadas e, ainda, o risco de variadas iatrogenias, entre as quais a mais significativa se refere às infecções hospitalares. Em relação a todos esses problemas, a atuação do assistente social objetiva minimizar o sofrimento inerente ao processo de doença e hospitalização do doente, incentivando sua família a ser elemento ativo no processo, condição importante para o êxito do tratamento. A ação desses profissionais objetiva, também, a promoção da saúde mental integral do paciente, valorizando influxos satisfatórios entre o mesmo e sua família. A atuação do Serviço Social visa atender, apoiar, facilitar a compreensão, dar suporte ao tratamento, auxiliar a entender os sentimentos, prestar esclarecimento sobre a doença e fortalecer o grupo familiar.
    Nesse sentido, faz-se necessário ressaltar que a presença da família é fundamental, constitui o referencial do doente, significando afeto e proteção. O elo que os une contribui para manter ou restaurar o equilíbrio do paciente, pois normalmente advém das pessoas que lhe transmitem segurança emocional. O contato com as mesmas ajuda a manter os aspectos sadios de sua existência e seus vínculos com sua realidade anterior, auxiliando sua adaptação no hospital. A afetuosidade da relação família/paciente gera um sentimento de apoio.






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